Lampejos
Bolinhas de naftalina
cheiro azedo na memória
Não quero mais
tirar a sorte no realejo
quero
o laranja da tarde
lampejando
agoras
Fogueira
Não me masturbe com ideias opacas
minha cabeça é um zoológico
sem jaulas
Não me roube dias de idílio
quero o fogo crepitando
depois do sarro
Não me tire o favo do desejo
quero prender em tua boca
minha desordem escarlate
cruzar os dedos em prece
e sussurrar teu nome
em vãos
Paisagem vermelha
para Jan Wiegers
Vermelho das árvores
tinge a paisagem
como labaredas
Amsterdam
cadê as bicicletas?
Pedalo meus medos
entre folhas nervosas
mas não encontro sinais
de um caminho
Na caixa torácica a saudade
vai crescendo subindo
porque ao longe os pássaros cantam
Sopros da Infância
Remexo com gravetos a memória
e a infância se acende
Jogando amarelinha
acerto no céu
Mamãe, posso ir,
quantos passos?
Pulo no tempo seguindo os sinais
do meu corpo
Olhando no espelho
vejo a maçã
mas a bruxa já vai longe
e agora na janela
não há príncipes
nem sapos
só meu desejo
(esta varinha de condão)