luz: mãos
1.
a luz – partículas
indivisíveis
exígua
flama
incêndio de poros
nas mãos que dormem
:em câmera lenta
acordam
estalam
os ossos da noite
para a exaustão do dia
2.
os dedos acesos
são fósforos
alçam o início
do fogo – roçam
na língua do dia
3.
quatorze falanges: mais treze
ossos e toda uma mecânica
espantosa – faminta
feroz pelo tato: isto é a mão
se movê-la debaixo da luz
o ângulo será outro: a mão
será outra diante do campo
sensível do olho
4.
a luz encontrará num desvio
montagem – coreografia de
janelas
frestas: rachaduras para
adentrar o corpo com o sol e seu grito
de níquel: hélio esparramado
no espaço que certamente se
deformará nos andaimes
do hálito: entrecortada
a fala se abrirá como o pão
ou rosa num velho jarro
Carlos Orfeu habita em Queimados, Baixada Fluminense. Lançou o livro Nervura ( 2019) e invisíveis cotidianos (2020), ambos pela Editora Patuá.